Universo digital: Advocacia cada vez mais presente nas redes sociais

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01/07/2023

Universo digital: Advocacia cada vez mais presente nas redes sociais

01/07/2023
Universo digital: Advocacia cada vez mais presente nas redes sociais

O uso eficiente da linguagem, a capacidade de argumentar com clareza e saber estabelecer conexões com o outro são habilidades que permeiam o exercício da advocacia desde sempre, mas que também são compatíveis com um novo campo que advogados e advogadas de todo o país passaram a explorar com afinco: o uso da redes sociais. A presença digital vem se tornando cada vez mais imprescindível, tanto em um cenário de mercado quanto dentro do próprio debate jurídico, ampliando a circulação de ideias e experiências e garantindo mais visibilidade aos profissionais da advocacia. A prática do marketing jurídico nas redes passou a ter seu código de ética mais claramente delimitado a partir do provimento 205/2021 da OAB, publicado em julho de 2021, que ressalta a prática correta da atividade feita de forma informativa e totalmente afastada de ferramentas de captação ou mercantilização da profissão. O conjunto de regras veio tornar mais clara uma atividade que já era praticada desde sempre pela advocacia, anteriormente em periódicos e na imprensa, agora tendo possibilidades maiores de democratização e acessibilidade por meio das redes sociais. Uma iniciativa da qual a OAB-PE teve uma participação ativa durante todo o debate que culminou na publicação do provimento. A presença nas redes se afasta da mercantilização, mas, ao mesmo tempo, é fundamental para um dos pilares do empreendedorismo jurídico: a criação de autoridade. A produção de conteúdo informativo contundente e acessível é uma das principais vitrines do advogado contemporâneo, que tem a oportunidade de colocar seus conhecimentos e experiências de forma pública e com amplo acesso. Essa presença digital enriquece a imagem dos profissionais entre os pares, já que, muitas vezes, acabam abrindo frutíferos debates a partir de algum conteúdo. Mas, especialmente, para possíveis clientes, que atestam a qualidade do advogado a partir da constatação de sua experiência e sua bagagem teórica.

A advogada Carolina Vasconcelos tem, desde 2018, se especializado na presença digital dos profissionais do Direito. Seus aprendizados geraram o projeto Advogável Mundo Novo, que vem rodando o país debatendo os novos caminhos que a advocacia brasileira deve seguir, em especial, no mundo digital. Ela deu os primeiros passos quando decidiu, junto ao sócio, que seu escritório se tornasse completamente digital, antes inclusive da pandemia, quando outros também seguiram por esse caminho. A partir de então, começou sua jornada, aprendendo e trabalhando junto com profissionais de marketing para ter cada vez mais solidez nas redes.

“O uso das redes para produzir conteúdo e construir autoridade nunca foi proibido, mas talvez algumas pessoas ficassem um pouco confusas quanto a isso. Não é novidade se posicionar e criar conteúdo. Prova disso são os periódicos jurídicos que os nossos colegas mais antigos usavam para se posicionar, através de artigos. Agora, temos meios para que qualquer advogado possa compartilhar seu conteúdo, suas ideias”, elabora Carolina.

Para navegar por esses novos mares, é preciso estar em constante aprendizado, uma vez que as ferramentas de posicionamento digital possuem dinâmicas muito intensas e velozes, com mudanças significativas acontecendo em períodos relativamente curtos. Abraçar o maior número de oportunidades possíveis de aprendizado nessa área é uma postura que precisa ser cada vez mais adotada. A OAB-PE, por meio da Escola Superior de Advocacia de Pernambuco (ESA-PE), por exemplo, vem realizando ações que são verdadeiras aliadas na construção dessa bagagem virtual.

“É muito simbólico que o primeiro curso da ESA-PE neste ano tenha sido sobre marketing jurídico, com o professor sergipano Pedro Henrique Lisboa. Trouxemos um especialista para que pudesse ensinar aos novos advogados como se posicionar nas redes, a favor de seus negócios. O uso delas é cada vez mais necessário enquanto um cartão de visita e também para a criação de autoridade, gerando conteúdo informativo para clientes e colegas, mas sem se mercantilizar”, afirma Pedro Silveira, diretor de inovação da ESA-PE.

Desde 2016, o advogado André Portela, que é proprietário de um escritório, vem usando as redes como cartão de visita de suas atividades. Atualmente sua marca está presente no Linkedin e no Instagram, onde possui mais de 1.500 seguidores. Ele desenvolve ações de marketing jurídico que o posicionam tanto para potenciais clientes quanto para parceiros comerciais, aprendendo a lidar com as redes e também contando com apoio de profissionais da área. A equipe jurídica produz, semanalmente, artigos mais aprofundados, cujos temas são destrinchados em postagens correlatas mais dinâmicas.

“Hoje ninguém mais questiona a necessidade da presença virtual. Antes eram com os sites, mas hoje o grande foco é nas redes. É preciso ter esse contato direto com nosso público. E isso vale tanto para clientes quanto para advogados que possam vir a trabalhar com a gente, aproximando sempre por meio da criação de conteúdo. Chega a ser difícil contabilizar os frutos que obtemos por meio dessas estratégias. No recrutamento de novos talentos, por exemplo, chegamos a fazer seleções com 100 candidatos, que nos conheceram através desses conteúdos”, relata Portela.

Mas também há aqueles advogados que resistem à entrada nas redes. Pedro Silveira ressalta que se tratam de profissionais mais antigos, muitas vezes com dificuldades no manejo das ferramentas digitais, em especial os chamados imigrantes digitais, que não nasceram já imersos nesse meio, assim como profissionais mais reservados, que não desejam expor sua imagem. “É perfeitamente possível crescer em sua carreira e ter uma ótima trilha sem estar nas redes. A publicidade, nesses casos, é feita no boca a boca, a partir de bons trabalhos e reconhecimento, que também criam autoridade. O advogado que abre mão desse recurso das redes abre mão de um atalho, de estar em um ambiente onde todos estão, com muitas oportunidades e investimentos. Mas isso não significa que não pode ter sucesso”, diz Pedro. Carolina Vasconcelos afirma que o posicionamento digital precisa ser algo encarado por toda a advocacia como mais um elemento fundamental da profissão.

“A gente ainda encontra uma resistência de profissionais que acreditam que divulgação é o boca a boca, um escritório bonito e um terno bem cortado. Mas é impossível a gente estar contra o caminhar das coisas, na contramão do que vem acontecendo com várias outras profissões. Hoje, nossa imagem e nossas redes são nossos principais cartões de visita”, explica.

Ela também cita algumas posturas que o advogado precisa adotar para ter bons retornos no trabalho com redes. É preciso ser ativo e frequente, sempre dispensando tempo para cuidar deste trabalho, identificar a linguagem que melhor se comunica com seu público, sempre trabalhando com clareza e jamais mercantilizar ou expôr questões de clientes nominalmente, o que também é vetado pelo Código de Ética.

“Vemos, por exemplo, profissionais que buscam se aproximar de clientes, mas que a linguagem de seus conteúdos é feita para outros colegas, com muitos academicismos e formalismos. Se esse for um de seus públicos-alvo, tudo bem. Mas também é preciso se comunicar de uma forma que pessoas de sua área conheçam o que você pensa e entendam. É um público que não quer um debate acadêmico, quer entender e resolver questões do dia a dia e você precisa aprender como transmitir isso. É algo que, inicialmente, é difícil. Mas o aprendizado contínuo ajuda a resolver essa questão”, explica a advogada.

A partir do domínio e do constante aprendizado do uso desses poderosos instrumentos, surgem novas dinâmicas nas criações de relacionamentos dentro da advocacia. Nasce uma oportunidade que nunca existiu antes para veteranos, mas, sobretudo, para os jovens advogados, que agora podem fazer parte do debate jurídico de forma mais acessível, trazendo, como consequência, autoridade e perspectivas profissionais mais sólidas.

“A OAB-PE e a ESA-PE enxergam uma excelente oportunidade para os jovens advogados. Eles têm a chance de mostrar seus trabalhos e se posicionar a favor de seus negócios. Quem souber usar essas ferramentas de forma inteligente vai ter um leque muito mais amplo, seja a partir de posicionamentos mais breves ou na participação em discussões mais intensas, interagindo, inclusive, com magistrados mais experientes. É algo que só tem a agregar quando feito de forma responsável, fortalecendo também o debate e a democracia”, argumenta Pedro Silveira.

 

Inteligência Artificial: a nova fronteira

Além do avanço nas redes sociais, as ferramentas tecnológicas têm provocado outras revoluções na advocacia. Escritórios pernambucanos vêm se reinventando e aderindo às inovações para se diferenciar e se destacar em um mercado cada vez mais competitivo. Um bom exemplo que ilustra esse cenário são as bancas do Recife que já cruzaram a fronteira da inteligência artificial em busca de um serviço cada vez mais ágil e eficiente.

Desenvolvida em parceria com a IBM, a primeira robô advogada da América Latina é capaz de realizar mais de 1,6 milhão de cadastros, atualizações de processos e protocolos. Carol, como foi batizada, é responsável pela elaboração de documentos e montagem de contestações, elevando em até cinco vezes o volume de improcedências, por sua capacidade de adequar as teses a cada magistrado e tribunal. Hoje ela é gerenciada por uma equipe de advogados, desenvolvedores e tech artists (artistas técnicos) de um escritório do Recife, que atuam em seu monitoramento e no auxílio de sua curva de aprendizado.

“Carol consegue consultar uma quantidade enorme de dados e dá respostas inteligentes que muitas vezes não vemos. Ela consegue sugerir jurisprudência, diligências, prazos, fazer leitura de sentenças, cadastros. Vimos, desde então, melhoria no atendimento ao cliente, um sistema mais organizado e respostas mais rápidas. O advogado agora foca muito mais no processo e nos dá uma aumento de qualidade diária por tantos pontos que ela aborda”, explica Dionizio Farias, diretor de inovação do escritório robô Carol.

A experiência da inteligência artificial também é adotada em outra banca de advocacia do Recife, com o Bob atuando há três anos no dia a dia da firma. Um ano antes, começaram os estudos de viabilidade ao lado de uma empresa de tecnologia e uma equipe de desenvolvedores. O lançamento foi em abril de 2019, na sede do Google, em São Paulo, de onde foram utilizados recursos tecnológicos para seu desenvolvimento. “Nossa tecnologia é voltada para as necessidades do cliente. Ela é usada na esfera trabalhista para descobrir a causa raiz das condenações das empresas para encontrarmos soluções. A partir do CNPJ, ele busca todas as certidões dos processos ativos no PJe dos Tribunais Regionais do Trabalho e realiza a captura de dados. É como se fosse um advogado, anos atrás, indo no balcão da secretaria com a lista dos processos para ver e tirar cópias. Ensinamos nossa inteligência artificial para ler algumas peças jurídicas e, a partir disso, identificamos os motivos dos ganhos de causa e dos acórdãos”, explica Geraldo Fonseca, sócio do escritório.

No dia a dia, por exemplo, um cliente que possuía várias fábricas espalhadas pelo país perdia vários processos envolvendo questões de insalubridade e não conseguia identificar a causa. Bob verificou que as causas estavam sendo perdidas por conta de ausências de fichas, que não estavam sendo arquivadas corretamente. A partir de então, o escritório demonstrou ao cliente as perdas financeiras e de imagem que esse cenário estava trazendo e buscou soluções para resolvê-lo.

Como em todas as atividades que já se utilizam da inteligência artificial, a advocacia também recebe críticas no sentido de uma suposta troca do material humano por uma ferramenta tecnológica. Os representantes dos dois escritórios ressaltam que o uso desse recurso em suas rotinas ainda são muito voltados para a eliminação de tarefas mecânicas e não substituem o bom trabalho de um advogado, que agora pode se dedicar ainda mais aos processos ao ser dono de um arsenal tecnológico que facilita muitos aspectos de sua rotina. “Eu não vejo as máquinas fazendo o trabalho dos advogados, diminuindo o mercado. Vejo uma tecnologia a serviço deles, de utilizar ainda melhor as informações disponíveis para seus clientes. A gente até aumentou nosso quadro de sócios. A tecnologia não veio substituir advogados. A inteligência humana é insubstituível”, afirma Geraldo. “Na verdade, temos um produto que dá muitos braços aos colaboradores, nada além disso. Ela não tem vida sozinha, não funciona sem apontamentos, é totalmente dependente dos seres humanos na sua concepção e no seu treinamento”, complementa Dionizio.

 

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