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21/07/2009Um luxo e um lixo - Jayme Lielson
21/07/2009Publicado no Diario de Pernambuco - 21.07.2009
jaymekielson@gmail.com
Nestes dias finais de festas "joaninas", cheguei dos Estados Unidos. Passei 18 dias pelas terras do Tio Sam. Fui buscar minha filha, a número quatro barra seis, que embarcara há um ano para estudar no estado do Oregon, num intercâmbio de jovens promovido pelo Rotary International. Ela, que vai fazer 17 anos regressou amadurecida, serena, formada no High School. Uma cidadã do mundo com os primores dos "please", "excuse", "tanks", bem próprios das pessoas civilizadas que a todo instante pedem licença e, por favor. Por tudo se desculpam e agradecem. É de dar gosto. Nos dias que estivemos por lá, saboreamos da hospitalidade de rotarianos que se desdobravam em ser gentis e nos servir. Ela aprendeu a pilotar avião, praticou hipismo, vivenciou uma fazenda automatizada. Colheu abóbora gigante para o halloween e um imenso pinheiro pro o natal. Ficou craque em snowboarding (uma espécie de skate na neve). Ahhh! Como minha filha se deleitou. E como se deslumbrou com tanta e abafante modernidade. É máquina para tudo. Lavar, secar, passar já era. Tudo é ticket. E a independência e respeito que os jovens detêm, em sua privacidade? Não cabem na minha cabeça. Quartos intocados, celulares e laptops indevassáveis, dirigem aos 16 anos, e aos 18 são desmamados e praticamente mandados embora. Nunca. Nunca mesmo, fazem Universidade morando com os pais. Obrigatoriamente, noutro estado. Vem em casa só nas férias, nos recessos e em alguns feriados mais especiais, como o natal e o dia nacional de graças. Cada um come qualquer coisa no seu "breakfest", e vai embora, aleatoriamente. Crianças e adultos. É a força motriz de um país que não almoça, não tem tempo a perder. O dia vai das 9 às 4 ou 5 da tarde, num pique só. E às 6 horas estão em casa, em família, para o seu "dinner". Jantam juntos e aí conversam.
Assim, que encontrei minha filha. Totalmente adaptada a uma rotina independente entre escola e sua paixão, o balé. Linda, emocionante a formatura. Sua última apresentação de balé nos palcos americanos, foi sensacional. Fiquei inchado de orgulho. Semana seguinte, perto de voltar, ela então me disse:
- Painho, tudo que eu quero, agora, é viver o luxo de voltar pra meu Recife.
Confesso que fiquei profundamente emocionado. Foram tantas fotos que ele tirara com a camisa do Sport, enrolada com a bandeira de Pernambuco. Eu até achava que era "jogo de cena" juvenil. Julgamento errado. Ela estava com saudade. Seus pedidos foram simples. Tapioca na pracinha de Boa Viagem, assistir um jogo na Ilha do Retiro, comer numa churrascaria até fartar. Passear de chinelinho de dedos, pelo shopping. Mergulhar num banho de mar morninho, beber uma água de côco e se lambuzar numa feijoada. De sobremesa, uma enorme cocada. E ao cair da tarde, um refrescante caldo de cana. Fiz assim mesmo. Só teve um problema. O Luxo, que Fernandinha mencionara de voltar a Recife, foi marcado pelo enorme e impactante susto, aos seus olhos acostumados com uma vida ordeira. Para todo canto por onde passávamos, só encontrávamos lixo. Nos meios-fios, nas praças, nas calçadas, nas avenidas, na praia, acumulado no parque 13 de maio, em frente onde moram seus avós. Nos monumentos e "cartões postais da Cidade". As cabeceiras das pontes, imundas. Os plásticos boiando pelos rios. O canal de Boa Viagem, simplesmente podre. Mato crescendo por todo canto. E, em frente onde moramos, pasme, um parque dona Lindu inacabado, horrível, repleto de entulhos, restos de obra se deteriorando. Além de muito lixo, ao descaso, não recolhido nos dias de feriado.
E aí, é ouvir a frase parecida com a anterior. Agora, de quem se choca com o que vê e se agonia com o que sente. A pós-adolescente se escandaliza com o absurdo e perde a esperança. Em seu coração de jovem adulta, sofre, quando tristemente exclama:
- Painho, tudo que eu queria, agora, era não viver o lixo, que fizeram do meu Recife.
Assim, que encontrei minha filha. Totalmente adaptada a uma rotina independente entre escola e sua paixão, o balé. Linda, emocionante a formatura. Sua última apresentação de balé nos palcos americanos, foi sensacional. Fiquei inchado de orgulho. Semana seguinte, perto de voltar, ela então me disse:
- Painho, tudo que eu quero, agora, é viver o luxo de voltar pra meu Recife.
Confesso que fiquei profundamente emocionado. Foram tantas fotos que ele tirara com a camisa do Sport, enrolada com a bandeira de Pernambuco. Eu até achava que era "jogo de cena" juvenil. Julgamento errado. Ela estava com saudade. Seus pedidos foram simples. Tapioca na pracinha de Boa Viagem, assistir um jogo na Ilha do Retiro, comer numa churrascaria até fartar. Passear de chinelinho de dedos, pelo shopping. Mergulhar num banho de mar morninho, beber uma água de côco e se lambuzar numa feijoada. De sobremesa, uma enorme cocada. E ao cair da tarde, um refrescante caldo de cana. Fiz assim mesmo. Só teve um problema. O Luxo, que Fernandinha mencionara de voltar a Recife, foi marcado pelo enorme e impactante susto, aos seus olhos acostumados com uma vida ordeira. Para todo canto por onde passávamos, só encontrávamos lixo. Nos meios-fios, nas praças, nas calçadas, nas avenidas, na praia, acumulado no parque 13 de maio, em frente onde moram seus avós. Nos monumentos e "cartões postais da Cidade". As cabeceiras das pontes, imundas. Os plásticos boiando pelos rios. O canal de Boa Viagem, simplesmente podre. Mato crescendo por todo canto. E, em frente onde moramos, pasme, um parque dona Lindu inacabado, horrível, repleto de entulhos, restos de obra se deteriorando. Além de muito lixo, ao descaso, não recolhido nos dias de feriado.
E aí, é ouvir a frase parecida com a anterior. Agora, de quem se choca com o que vê e se agonia com o que sente. A pós-adolescente se escandaliza com o absurdo e perde a esperança. Em seu coração de jovem adulta, sofre, quando tristemente exclama:
- Painho, tudo que eu queria, agora, era não viver o lixo, que fizeram do meu Recife.