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08/09/2011Trânsito e Violência - Naura Reis
08/09/2011
Entre as suas variadas formas, a violência tem lugar quando atos intencionais são exteriorizados através do uso de força física ou mental, seja ou não em situações de conflito. Independentemente das múltiplas teorizações, a denúncia da violência emerge da consciência coletiva e do anseio geral de vê-la reduzida.
Embora o seu combate se dê em vários espaços sociais, não parece, na prática, estar em declínio. Seus focos difusos recrudescem dia a dia. No trânsito, se manifesta pela conduta de motoristas profissionais ou amadores que infringem a legislação e inobservam as mais elementares regras de boa educação, ora porque não lhes foram transmitidas ou por serem fruto de tensões individuais transmudadas em agressividade.
Sair de casa a pé ou de automóvel não significa apenas se tornar vítima eventual de um ato extremamente agressivo advindo de quem exibe uma arma em punho, mas também ser destinatário de outro tipo de agressão praticada por condutores de carros, ônibus e motos, rudes e descorteses, a usar expressões torpes, buzinar de modo histriônico e praticar manobras inesperadas e imprudentes apenas porque alguém precisou reduzir a velocidade para entrar no seu domicílio, estacionar ou esperar que pessoas atravessem as ruas. O desrespeito, a truculência e a incivilidade de muitos motoristas condimentam negativamente o quotidiano da circulação viária.
São essas pessoas que deixam pedestres acuados pela impossibilidade de atravessar incólumes as faixas que lhes foram demarcadas e cidadãos outros que buscam cumprir a lei e as básicas pautas de convívio social. Esses últimos, lamentavelmente, quando estão ao volante, são impelidos para um caminho avesso, de constrangedor desacerto, visto como obrigados a evitar um acidente às vezes de proporção imponderável provocado pelo transgressor grosseiro que se colocou abruptamente atrás, ficam impossibilitados de parar antes da faixa de pedestre para que os transeuntes possam, com segurança, atravessá-la. No segmento de infratores estão ainda os que externam intolerância e espanto com relação às pessoas de trato urbano e conduta disciplinada pelo simples fato de não estacionarem em locais reservados com exclusividade para deficientes físicos e idosos.
A violência no trânsito, pois, não está adstrita às graves ou gravíssimas infrações de condutores alcoolizados ou não a causarem danos irreparáveis ou de difícil reparação a terceiros. Ela se mostra pela ausência de educação primária de muitos - independentemente do status social - a ofender de modo irracional e gratuito os que pacatamente se deslocam pelas vias.
Mas o que fazer para melhorar essa teia interativa de condutores de veículos? Sem falar em outros foros que priorizam a importância da prática da cidadania, a mídia, sobretudo a radiotelevisiva, que exerce poderosa influência no comportamento das pessoas, poderia se transformar num eficaz instrumento para conter comportamentos antissociais na rotina do tráfego das cidades, através da divulgação de sistemática campanha educativa. Possivelmente, a partir dos esperados resultados positivos, a providência de relevante contribuição social, poderia inibir tensões coletivas de outras naturezas.
Naura Reis é advogada