Semana do sofrimento, da morte e da ressurreição - Nilzardo Carneiro Leão

21/04/2009É uma semana diferente. Há mais de dois mil anos repete-se o drama do sofrimento de um Homem, a incompreensão para Suas palavras, o sofrimento mais cruel, o Calvário e a vitória sobre a morte.

Ele veio para mostrar o caminho e foi rejeitado, veio para espalhar o amor e não foi compreendido, veio para destacar a igualdade entre os homens e recebeu o ódio. Ele sofreu na escuridão da noite a dor do abandono:
“Minha alma está triste até à morte.”

Ele procurou amparo e alívio nos que Lhe eram fieis, Mas nenhuma ajuda foi dada, pois seus discípulos dormiam. No entanto, aproximava-se a agonia e era preciso estar em vigília, não dormir. Ao encontrá-los dormindo, aflige-se pelo perigo a que eles estavam expostos, mas, naquele instante, ainda não era o tempo de despertá-los e deixou-os em repouso.


Se essa era a vontade do Pai, se o Seu sofrimento era indispensável, se a própria morte era o desejo Dele, que fazer, tem medo mas avança e se oferece, não permitindo que discípulo algum provocasse uma luta em Sua defesa. E se dá totalmente:
“Seja feita a Vossa vontade.”

Com sua morte, salvou os discípulos que dormiam. Salvou e permanece salvando todos os justos. Esse, o grande mistério do sofrimento silenciosamente aceito, a dor que não compartilha com ninguém, pois é só Dele, oferecendo-se à morte. Mas que morte? A Ressurreição vence a morte, dando a lição maior da razão de Sua permanência entre nós.

Chegou, mostrou-Se para que todos pudessem e podem Vê-lo, ensinou aos que quiseram e querem aprender, cresceu entre os homens mostrando o caminho do crescimento, amou a todos, inclusive aos que O odiavam, a mostrar que “o amar ao próximo como a si mesmo” seria e é o verdadeiro caminho que o homem deve seguir e feito Homem e sendo morto pelos homens., trás a Ressurreição e caminhou ao seu verdadeiro REINO onde está com o Pai, para onde haveremos de ser alçados pela Sua vontade.

Mesmo para os que não têm credo algum, aos que se encontram ausentes em uma religião, este é um tempo que bem serve para a meditação. Para fazer o início de um pensar, de uma busca para algo que não seja apenas guerras, trucidamentos, egoísmos, do agressor que não apenas maneja a faca ou a arma de fogo mas os que pelo engodo, pela corrupção e pela ausência de ética, trazem descrédito para o povo, desvalia para as instituições, embrutecem o homem de forma que jamais se poderia imaginar.

Não será chegado um tempo de recomeçar? “Começar de novo”, diz a canção. “A eterna novidade do mundo”, de que fala o poeta, está dentro de nós. E cada um que aprenda a descobri-la, pois assim fazendo, pouco a pouco irá percebendo a real dimensão do homem e seu caminho. Que pode começar como a dimensão de um sonho para ser tornado realidade:
“Uma das calamidades a vida é sonharmos apenas quando estamos dormindo...O homem mais pobre não é o homem sem dinheiro: é o homem sem sonhos.”

Eis o mistério de uma Semana especial. Ele chegou, mostrou a que veio com palavras e ações, não foi compreendido, é preso, torturado e morto. Mas vencendo a morte, tornou à vida e alçou para esperar os justos. Daí a beleza do nosso Dom, Hélder Câmara:
“É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada. Mas graças das graças é não desistir nunca.”


Nilzardo Carneiro Leão é Professor, advogado do IAHGP ( nilzardo@terra.com.br).