Professor Goffredo Teles - Gilvandro Coelho

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07/07/2009

Professor Goffredo Teles - Gilvandro Coelho

07/07/2009
Professor Goffredo Teles - Gilvandro Coelho

Publicado no Diario de Pernambuco - 07.07.2009

gvcoelho@uol.com.br

A morte do professor emérito da Universidade de S. Paulo (USP), Goffredo da Silva Teles, aos 94 anos, ocorrida na noite do sábado, 28 de junho, surpreendeu os que o admiravam como mestre da ciência jurídica e marco histórico e político da redemocratização brasileira, conforme bem qualificou seu ex-aluno, Celso Lafér, também professor daquela Universidade e ex-ministro das Relações Exteriores no governo FHC (Folha de S. Paulo, 29.06.09). A sua inesquecível "Carta aos Brasileiros" constitui, sem nenhuma dúvida, viga mestra contra a nova ordem que se instalou no país, a partir da quebra das instituições democráticas.

Não tive o privilégio de ser seu aluno presencial porque estudei e me graduei em 1945, na então Faculdade de Direito do Recife, hoje integrante da Universidade Federal de Pernambuco. Mas o admirava desde quando conversava com seus alunos das Arcadas e me preparava para assumir a docência da disciplina Introdução à Ciência do Direito na Universidade Católica de Pernambuco que foi concebida - e estava sendo criada - para auxiliar aquela Faculdade de Direito na formação dos juristas que o Nordeste careceria na arrancada para o desenvolvimento. Assim, a nossa preocupação - também a do professor Goffredo - era com o direito como expressão do justo. Não apenas com o conhecimento e aplicação das leis que exprimem, em atos normativos, punidos com sanções, os desejos - nem sempre justos - de um determinado governo. O seu "Curso de Lógica Formal - Tratado da Consequência" com muitas edições (José Bushatsky, S. Paulo, 1947) e a "Criação do Direito", em dois volumes (S. Paulo, 1953) são expressivos dessa concepção, que ressaltamos em nossos cursos da disciplina. Esses livros eram por mim recomendados nos Quadros Sinóticos de Introdução ao Estudo do Direito que escrevemos e editamos por muitos anos.

As suas aulas, como também registra o aludido professor Celso Lafer, associavam o rigor do pensamento e a clareza da exposição. Tinham, principalmente, o lastro da exemplaridade de sua constante preocupação com a conduta ética. Citou, então, a oração que proferiu no final do turbulento ano de 1964, em homenagem a Spencer Vampré, seu antecessor na disciplina de Introdução ao Direito. Ao dizer que aquele mestre se dedicou a plantar rosas no pátio de pedra da Faculdade podemos repetir que esse trabalho foi o que também fez o professor Goffredo Telles com amor, dedicação e sabedoria.

Aposentado, continuou a exercer a sua missão docente. Escreveu e reeditou muitos dos seus livros, como "Iniciação na Ciência do Direito", "O Direito Quântico", um ensaio sobre o fundamento da ordem jurídica, "A criação do Direito", Ética" do mundo da célula ao mundo dos valores", "Estudos" e o "Povo e o Poder". Em seu escritório, reunia grandes grupos de estudantes, fazia bosquejos e proferia dissertações reunidas como "Palavras do Amigo aos Estudantes de Direito" (Ed. Juarez de Oliveira, S. Paulo, 2003). Falava ao povo que a Constituição é o Estatuto do Governo (A Constituição, a Assembleia Constituinte e o Congresso Nacional (Saraiva S. Paulo, 1986). Em "A Folha Dobrada" registrou as lembranças de um estudante ao recordar o mestre Tobias Barreto que a queria límpida, natural e simples" (Nova Fronteira, Rio de Janeiro 1999). Assim, aquele mestre continua a cumprir o seu maior desejo ... lecionar e escrever para difundir o modelo de um Direito nascido do respeito ao próximo, do amor ao semelhante.

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