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12/03/2010O Haiti é aqui - Manoel Fernandes Maia
12/03/2010Publicado na Folha de Pernambuco - 12.03.2010
As cenas estarrecedoras que passam na mídia sobre o Haiti, são impressionantes, chocantes e, poderíamos citar qualquer outro adjetivo de tal grandeza, que nos levaria a loucura.
O Haiti era um país onde o povo passava fome e sua desordem social era muito grande. A ONU já estava lá antes do terremoto, e com ela o Brasil, cujo efetivo de homens era o maior, e com a responsabilidade de chefiar as tropas internacionais.
O mundo inteiro se mobilizou e com toda razão, não só com comida, água, roupas e etc. mas com recursos a fundo perdido.
O Brasil tinha um dos maiores contingentes de militares, que já estavam lá. Eram 1.300 homens. Dobrou, ficando portanto um número de 2.600 militares do Exercito brasileiro, naqueles país caribenho, ganhando em dólar.
Dezoito militares e dois civis brasileiros perderam a vida até agora. Foram referenciados e indenizados como heróis.
O Brasil já se comprometeu com a doação de 375 milhões de reais para o Haiti, desde o terremoto que devastou o país no dia 22 de janeiro. O montante pode chegar a alcançar 1 bilhão de reais em função de outras doações, inclusive vindas do setor privado. De toda parte do mundo, chegam ajudas. Valores nunca antes vistos.
O que me chamou atenção para escrever sobre esta catástrofe que de uma forma ou de outra nos atinge, foi um aviso em jornais de grande circulação que dizia:”TEREMOTO DO HAITI FOI SENTIDO EM PERNAMBUCO ”. Havia endereços de pontos para receber alimentos de consumo imediato, e garrafas de até 5 litros de água. Este anúncio aparecia enquadrado em pontilhados.
Pedia ainda para o recorte, que fosse colocado em quadros de aviso nas escolas, nas faculdades, nos locais de trabalho, ou estabelecimentos comerciais e até mesmo nos prédios residenciais.
Na mesma época assistíamos a uma tragédia em Angra dos Reis. Pessoas soterradas na passagem do ano e de igual sofrimento para suas famílias, como a dos haitianos. Os 80 mil reais que foram prometidos pelo governo brasileiro à prefeitura de Angra, não havia sido recebido.
Na capital, Rio de janeiro, morte de militares é uma constante, no combate a droga. Não são enterrados como heróis, nem tão pouco bem indenizados. Em vez disso, queixam-se de armamentos obsoletos. Em compensação, os traficantes tem poder de abater até um helicóptero da polícia, matando policiais.
São Paulo também virou um palco de guerra civil e vidas são tombadas todos os dias.
Barreiras despencando e matando pessoas soterradas, enchentes no país inteiro são o que vemos todos os dias deste 2010.
No norte e no nordeste do Brasil (pobre regiões de miseráveis), pessoas passam fome, morem de inanição, verdadeiros cadáveres ambulantes, catam lixo, vendem lixo, comem lixo.
Já foram no sertão? Tem que ser um forte para sobreviver, já dizia Euclides da Cunha. Come-se palma, a mesma palma que é dada ao animal.
Crianças são exploradas quando não sexualmente, em trabalhos pesados. Elas apanham de seus pais, principalmente de padrastos e madrastas, mesmo quando não embriagados.
O sol escaldante faz o solo rachar. As casas de barro sem a mínima higiene necessária, leva a epidemias. Morrer de diarréia é normal. Morrer de gripe é normal. Numa família grande, perder um ou dois filhos banalmente é normal, comum.
Tem gente, digo gente, que nunca viu a luz elétrica. A lua ou as estrelas iluminam os corações que perdem a esperanças.
Este quadro catastrófico se arrasta desde que o Brasil foi descoberto. Não vemos nenhuma grande mobilização para mudar este cenário, como acontece agora no Haiti.
O governo destina verbas para o Haiti, mas se esquece de olhar para dentro. Usa políticas sociais eleitoreiras.
Estamos vendo Ministro enciumado com outro, pois não foi convidado para ir junto ao Haiti. Para vir para aqui, no norte e nordeste, vem com má vontade.
Entretanto, o povo haitiano sofre mais que o nosso e merece ser socorrido.
Será que nosso exercito poderia designar um contingente igual ao do Haiti, para prestar socorro a nossa sofrida e miserável população? Teria certamente muito a fazer. Igualzinho aos nossos irmãos haitianos, tratados com tanta simpatia e carinho pelos brasileiros militares e até voluntários.
Será que o governo não poderia colocar nos jornais pontos de entregas de donativos para nossos famintos? Exercer uma política permanente com os nossos irmãozinhos? E deixar de tanta propaganda e demagogia.
É realmente duro acreditar mas o Haiti é aqui. Ë só olhar para dentro do Brasil.