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20/01/2011O desemprego como forma de violência contra a dignidade do trabalhador - Hélio Lúcio Dantas
20/01/2011Publicado na Folha de Pernambuco - 20.01.2011
Ao cabo de 2005, provocado pelo lastimável assassinato do psicanalista Antônio Carlos Escobar, escrevi um artigo publicado neste Jornal no qual abordei as diversas posturas/sentimentos que se pode tomar em face da violência.
Naquela ocasião abordei a violência física. Todavia, existem diversas formas de violência que precisam ser identificadas e combatidas. Um episódio me motivou a escrever este texto: Em setembro de 2010, fui abordado por um jovem e ainda sem fitá-lo ameacei lhe dar 1 real, o rapaz olhou para mim e perguntou: “o que é isso?”. Naquele instante, observei que ele estava com um punhado de tapiocas, então respondi: quero uma tapioca, ele me entregou satisfeito e foi embora. O jovem vendedor de tapiocas deu-me uma prova de que o pernambucano quer construir o seu futuro com a força de seu trabalho.
Nesse contexto reflito sobre o desemprego que concebo como uma atroz violência contra a dignidade do trabalhador. Retomamos a seguir a identificação dos três sentimentos que nos invadem quando nos deparamos com as diversas formas de violência.
O primeiro sentimento que vislumbro é a indiferença, é a postura daqueles que de tanto conviver com a violência, com o desemprego e com a miséria desenvolvem uma insensibilidade crônica. A dor e o sofrimento alheio não os enternecem. São indivíduos qual caramujos, voltados apenas para os seus problemas. A indiferença para com a violência perpetrada contra os pernambucanos que o desemprego consubstancia chega a ser surpreendente embora não inexplicável. Olvidam-se os que nutrem esse sentimento que podem ser as futuras vítimas do desemprego ou de suas consequências e que toda a sociedade ganha quando os trabalhadores têm efetivas oportunidades de trabalho.
O segundo sentimento encontradiço é a resignação, é a aceitação do desemprego como algo inerente à economia brasileira, mormente à economia pernambucana, contra o qual pouco ou nada se pode fazer. Para essas pessoas não adianta remar contra a maré se estamos predestinados à penúria. A oportunidade está fora de Pernambuco, talvez até fora do Brasil.
O terceiro e derradeiro sentimento que observo é a indignação, é a revolta contra o desemprego que é capaz de golpear a dignidade do trabalhador. É a postura dos que não se limitam a lamentar, mas se insurgem contra o desemprego e não o admitem como algo natural e corriqueiro. Repudiamos o indignado retórico que esbraveja, mas nada faz, não aponta caminhos, apenas joga para a plateia.
Nós indignados, encontramos eco, não apenas nas palavras do recente discurso de posse do governador Eduardo Campos, mais principalmente nas ações empreendidas por ele e sua equipe nos quatro anos de gestão. Os 255.000 empregos criados e a grande expectativa de crescimento que Pernambuco vive, alavancada dentre outros grandes empreendimentos pela chegada da fábrica da FIAT, transformaram o cenário socioeconômico de Estado, fazendo-o retomar, após longíssimo inverno, o papel de destaque no plano nacional.
Não pode perdurar um estado mental em que as pessoas ou estão desalentadas pela falta de emprego ou temerosas com o desemprego iminente. Em que migrar (como fez a família do ex-presidente Lula) é a única alternativa de sobrevivência. O desemprego tem de deixar de ser um fantasma a atormentar as famílias. A inarredável determinação governamental conjugada com uma mobilização da sociedade e da iniciativa privada resultará inelutavelmente numa brutal transformação desse aterrador quadro anterior. Vinícius de Moraes, em seu poema intitulado “O haver”, traduz numa expressão, o que o combate ao desemprego representa: “contemporaneidade com o amanhã dos que não tem ontem nem hoje”.
Creio que vivemos “um novo tempo” como ressalta o título da canção de Victor Martins e Ivan Lins, e parafraseando-os concluo que nossa esperança é mais que a vingança é um caminho que se deixa de herança. Que o ano de 2011 seja pródigo em oportunidades para o trabalhador pernambucano resgatando-lhe a dignidade de um povo tradicionalmente altaneiro!