Notícias
07/12/2009Novamente o Natal - João Bosco Tenório Galvão
07/12/2009Publicado no Diario de Pernambuco - 07.12.2009
jbtg@uol.com.br
Novamente o Natal! Nem todas prestações dos natais passados foram pagas e chega o novo Natal. Pois, além de natal é tempo de crediário, tempo de incontáveis parcelas mensais e juros que beiram o pecado. Tudo se compra em até 80 meses. Afinal o brasileiro não faz conta de juros, pois só enxerga o valor da prestação, que disfarça as exorbitâncias. O sapato de R$ 80, vira R$ 160 em 24 meses, enquanto o salário do prestamista crescerá uns 4% ou 5% ao ano, na certeza do quem sabe? Tudo se parcela neste país do carnaval, do futebol, do pó e do crack. Carros em até oitenta meses. Sapatos e roupas em 24. Geladeiras, fogões, televisores e tudo que for elétrico, podem ser comprados por 36 parcelas. Inexiste uma propaganda descritiva dos juros cobrados e nossos órgãos de defesa do consumidor são silentes sobre os encargos de ordem financeira. Não existe uma preocupação defensiva da economia popular, o que interessa ao estado é faturar impostos, aos bancos e financeiras a cobrança de juros, aos comerciantes o esgotamento dos estoques. A discussão da extensão dos juros é semi-proibida para não atrapalhar a cadeia especulativa, pois numa inflação anual de 4%, a cobrança de juros que pode chegar a 13% ao mês é atentatória aos interesses da população nacional. Vamos até onde? Não sou daqueles que defendem o tabelamento de tudo. Pelo contrário, para mim controle de preços quando muito, só deveria ser imposto aos concessionários de serviços públicos. No mais se deve liberar total. Contudo, entendo ser criminosa a prática de vender-se o valor da prestação na aquisição de bens, mascarando-se com disfarces financeiros o valor da extorsão representada pelos juros gigantescos.
O que custaria explicar a este bondoso povo a real dimensão das taxas de juros praticadas. Alguma coisa está errada. Os serviços de crediário não têm, no Brasil, assistentes sociais para que o consumidor seja orientado. Em alguns países eles existem. Nos Estados Unidos, grande centro financeiro, assisti em Atlanta o trabalho de assistentes sociais orientando consumidores no tocante à dimensão do endividamento e na qualidade e prioridade dos bens de aquisição desejada. Era a boa prática do crediário, que impulsiona as vendas, com responsabilidade social e baixos níveis de inadimplência. Onde não existe essa responsabilidade social os problemas hão de surgir. Por exemplo: a venda de carros populares em 80 parcelas mensais é absolutamente temerária, pois esses veículos não durarão sete anos. O crédito consignado com taxas de juros várias vezes superiores às taxas inflacionárias é sintoma de corrupção administrativa como foi denunciada sua prática no Senado da República. Lembram-se do sobrinho? As regras devem ser republicanas. As vantagens e encargos nessas operações deve o estado explicitá-las. Mas estamos no final do ano. O balanço de nossas vidas deve ser feito para que a avaliação seja produtiva. Este ano foi bom. Maria Júlia, minha neta, já diz vovô, com um imenso sorriso. Esse sorriso vale mil prestações de qualquer preço, e só tenho que pagá-las a Deus..