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01/02/2010Holocaustos e afins - João Bosco Tenório Galvão
01/02/2010Publicado no Diario de Pernambuco - 01.02.2010
jbtg@uol.com.br
Na semana finda, o presidente Lula com a comunidade judaica pernambucana celebrou a memória do Holocausto Judeu da 2ª Guerra. Sim, não podemos perder a memória do holocausto nem qualquer memória das diversas formas de tirania, de discriminação, de intolerância e escravidão. Disse-me, certa vez, o lusitano Afonso de Albuquerque, que o bicho homem era o pior animal desse planeta. Lendo as histórias de D. Pola Berenstein, onde ela conta as miseráveis agressões sofridas por seu povo, por ela e sua dizimada família durante a 2ª Guerra Mundial, tendemos a concordar com nosso amigo lusitano. Qual animal sente prazer com a tortura, com a degradação do seu semelhante? As perversidades praticadas não têm limites. Imagine o eventual leitor, ver sua filha e seu filho gratuitamente espancados, estuprados e mortos. Ou, vivos, sob a brutal escravidão de trabalhos forçados. Ou ainda sob chicotes coagidos à prática dos mais degradantes atos já imaginados pela espécie humana.
Exemplificando, imaginem a violência de um governo entre nós que, secretamente, condenasse a família Silva a trabalhos forçados e ao extermínio. Absurdo? Pois assim foi feito por séculos com os negros e no século 20 com os judeus, e ainda é feito no século 21 com o trabalho escravo, com o tráfico de mulheres e de mão de obra. Imaginem os leitores que pessoas neste século, que será iluminado, ainda são discriminadas pela cor, pela religião, por serem oriundas de determinadas regiões deste planeta. Tem pessoas que de tanto discriminadas passaram, numa visão do próprio umbigo, a discriminarem os que lhe são diversos. Nos Estados Unidos, em certa época, negros ricos se fechavam em seus clubes opulentos, devolvendo aos brancos (pobres) as discriminações anteriormente sofridas. Hoje, certa elite islâmica devolve ao ocidente as intolerâncias sofridas pelos árabes através dos séculos. Até quando esse mundo será dividido entre vencidos e vencedores, opressores e oprimidos quando estamos todos na mesma Arca de Noé? A escravidão praticada em nossos dias é tão cruel como dantes. A privação de imensas parcelas de nossa população de direitos e de segurança jurídica em suas relações laborais é afrontosa. Se aos escravos eram prestados alimentos, pois os senhores preservavam suas propriedades, os escravos de hoje, brancos, negros, amarelos, trabalham clandestinamente, em péssimas condições sanitárias e de segurança, com remunerações pífias que não lhes quitam sequer o alimento.
O Diario nesses últimos dias publicou que Pernambuco é líder no chamado trabalho escravo. Logo Pernambuco que abrigou os maiores abolicionistas brasileiros. Algo deve ser feito acabando com a impunidade que ferra milhares em nosso solo libertário. Vamos relembrar todas as iniquidades praticadas contra quaisquer coletividades raciais, religiosas, sociais, impondo-se reações concretas contra esses eternos abusos. Vamos contestar o bom Lusitano Afonso de Albuquerque, afirmando que o bicho-homem é um prodígio, é um animal de memória, e que o pior dos nossos nunca esqueça de que é um homem.