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17/01/2011Desodorantes e cartões de crédito - João Bosco Tenório Galvão
17/01/2011Publicado no Diario de Pernambuco - 17.01.2011
Jbtg@uol.com.br
São duas invenções modernas americanas usadas em praticamente todo o mundo, com notórias vantagens políticas, econômicas e sociais. Não pudemos imaginar nosso quotidiano sem essas duas invenções: desodorantes e cartões de crédito. Já imaginaram, quer no Recife tropical ou na cinzenta Londres, o tráfego lotado em elevadores, trens ou metrôs sem o uso dos aromatizadores ou desodorizantes pessoais? Ninguém aguentaria o cheiro do que o popular resolveu denominar de inhaca. Antes o cheiro era de bicho, hoje podem as pessoas não ter cheiro ou cheirarem a qualquer coisa, a escolha é livre! E a invenção do desodorante é relativamente recente, vem da década de 10 do século passado, há exatamente cem anos. Como a invenção custava caro, sua popularização só veio a ser maciça depois da 2ª Guerra, com a universalização do american Power e barateamento dos novos insumos usados na fabricação do purificador de odores axilares. Portanto, viva o americano, inimigo número um dos odores que infernizavam a vida de todos, principalmente os nascidos abaixo da linha do equador onde reina o calor nas quatro estações do ano. Não se sabe o nome do inventor, mas bem que o mesmo mereceria uma estátua, de preferência erguida em Paris, terra de pouco banhos.
Outra avançada e cômoda invenção americana, sem dúvidas, foi o cartão de crédito. Por volta de 1950, um bon vivant chamado Frank MacNamara após banquetear-se num restaurante fino de Nova York, passou um vale, que é o nosso tradicional pendura, tendo em seguida a ideia de um cartão vinculado ao seu portador carregando em seu bojo crédito necessário, na época, para gastos supérfluos. Nasceu o Diner's Club Card, o pai de todos os cartões. Inicialmente o cartão era de papelão. Com menos de três anos de criado o seu idealizador já tinha centenas de milhares de usuários de sua ideia, pois os ricos consumidores não gostavam de portar o vil metal. Em pouco tempo e com largo uso o papelão foi substituído pelo plástico que emprestava mais segurança e durabilidade. A inovação se espalhou pelos quatro cantos do mundo e como boa invenção capitalista logo fez pactos com os regimes comunistas vigentes até hoje, como o do camarada Fidel, pois lá na Ilha os cartões facilitam a vida dos turistas. Porém aqui, como na pátria dos cartões, eles turvam a percepção e nos faz pensar que somos ricos, triste ilusão. Os cartões já não são mais de empresários boêmios, são agora de empresários banqueiros. Quem não paga em dia paga com juros. Lá, como aqui, juros moratórios são extorsivos e, portanto, criminosos. Aqui chegam aos 15% mensais com grandes clamores aos céus. Por isso concluímos, desodorantes e cartões temos que saber usar.