Decanos da Advocacia  - Bráulio Lacerda

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15/04/2010

Decanos da Advocacia - Bráulio Lacerda

15/04/2010
Decanos da Advocacia  - Bráulio Lacerda

Publicado na Folha de Pernambuco - 15.04.2010

A Advocacia é uma das raras atividades em que o tempo se encarrega de apurar e exalçar o valor profissional. Um pouco parecido com o que acontece na política, no jornalismo, na ciência, nas artes, no ofício autoral.

Nessa toada, de uma forma geral, não envelhecemos ou nos tornamos demodês; apenas ficamos sensivelmente mais experientes; alguns, até, quase uns demiurgos.  

Poderia dar exemplos incontestáveis, a começar por Ruy, e até conheço, ou conheci, vários deles muito de perto: Evandro Lins e Silva, Sobral Pinto, Roberto Campos de Andrade, Murilo Guimarães, José Veiga, Torquato de Castro, José Meira, Rui Antunes, Antônio de Brito Alves, Everardo da Cunha Luna, Jérson Maciel (fui seu assistente no Departamento Jurídico do Movimento de Cultura Popular nos idos de 1963, e até aquela manhã cinza de 1º de abril de 64), Moacir César Baracho, Evaristo de Morais, Técio Lins e Silva, José Carlos Dias, Nabor Bulhões, Pelágio Silveira, Fernando Tasso, Fernando Lacerda, Fernando Alves, José Carlos Tórtima, Carlos Moreira, José Guimarães Sobrinho, José David Gil Rodrigues, Urbano Vitalino, Lúcio Jatobá, Adauto Alves, Juarez Vieira da Cunha, Vital do Rego, Ítalo Pinheiro - por aí vai...

São os decanos da advocacia. Vale dizer, recepcionando uma das acepções houaissianas para o substantivo, alguém que se destaque ou seja eminente em uma atividade ou entre seus iguais, ou, ainda, membro mais antigo de uma corporação. E apresentam, ainda, certos traços que transcendem a inevitável deformação profissional. Como os flagrados pela sensibilidade do juiz Eliezer Rosas nos grandes advogados criminais com os quais conviveu, mas que se estendem, em certa medida, aos mais experientes em todas as especialidades do Direito. Eis o retrato capturado pela lente sensível do egrégio magistrado fluminense: “Eram homens, a bem dizer, amargos. Não amargos de maldade, mas amargos de humanidade, de simpatia para com o trágico destino de certas vidas malferidas e mal vividas, que à sombra deles iam pedir um pouco de descanso e paz .”

Pode ser um corifeu ou apenas um antigo e exemplar advogado militante. Um provecto notável ou um Maïtre  de longo curso. O que se reclama somente é o bom saber jurídico e a longa e ilibada militância de advogado ‘puro-sangue’, com banca montada, daí não caber Defensor Público ou egresso da Magistratura ou do Ministério Público, nem ser menor de 60 anos, que menino não entra nesse rol. (Não sei por quê, vieram-me, a súbitas, as palavras de Machado de Assis: “A juventude é uma fase linda, pena que tenha que ser vivida por jovens”.) É que se exige tenha experimentado demoradamente as incertezas da profissão em todas as suas modulações e variações, a começar pela sala de espera sazonalmente vazia, o desamparo de comparecer no meio da noite a uma repartição policial (nada parecido, é certo, com a coragem épica do exórdio famoso das defesas criminais feitas na fase mais tenebrosa da Revolução Francesa: “Trago à Convenção a verdade e a minha cabeça. Ela poderá dispor de uma, depois de ter ouvido a outra...”), as viagens solitárias a remotas comarcas de sertões inóspitos, as intermináveis esperas nas ante-salas dos gabinetes judiciários e das salas de audiência, as recepções nem sempre calorosas dos serventuários, as eternas dificuldades com meirinhos, a indescritível solidão da tribuna. E a fatalidade dos prazos, a abundância de prazos, a exiguidade dos prazos, o tormento dos prazos - que juiz e promotor não sabem o que é isso... . “Quem tem prazo não tem pressa”, ora, meu caríssimo Marco Maciel, isso pode valer para a política, não para o processo judicial. E como se tem pressa na advocacia, ilustre Marcantônio, a ponto de sustentar o desembargador Gilberto Gondim que o “advogado são 90% braços e pernas”.

Não ficaria bem partirmos, ainda que ‘de muito viver’, sem nos congraçarmos. Um encontro mensal, quem sabe a cada dois meses, mais do que isso se corre risco de desencontro irredutível. E não há situação melhor para esse tipo de confraternização do que um almoço no Leite, até pela secular tradição do lugar.

Foi aí que me deparei com um pequeno problema. Imaginando, se tanto, uns vinte, trinta nomes, resolvi, junto com o respeitável e sempre sereno Djair Pedrosa, organizar uma rápida lista. Estamos parando na altura dos setenta nomes, por aí, mas, ainda assim, assombra-nos, a ambos, o fantasma das traições da memória. Vamos lá, pela caótica desordem da memória. Iniciemos pelos notáveis José Neves (o Velho), Roque de Brito Alves, Joaquim Corrêa de Carvalho Jr., Nilzardo Carneiro Leão, Romualdo Marques, Bóris Trindade, Carlos Antônio Baptista Domingues, Clávio Valença, Antônio Renato Lima da Rocha, José Henrique Wanderley, Jairo Aquino, Vicente Moreno, Roberto Magalhães, Dorani Sampaio, Aluísio Xavier (o Novo), Otávio Lobo, José Carlos Araújo, o próprio Djair Pedrosa de Albuquerque, Luiz Piauhylino, José Paulo Cavalcanti. Prossigamos pelos conspícuos Arthur Carvalho, Élio Wanderley de Siqueira, Horácio Mendonça, Aurélio Agostinho da Boa Viagem, Ivon D’Almeida Pires Filho, Hélio Revoredo, Maurício Albuquerque, Ivo Dantas, Eliah Ébsan Duarte, Aluísio Times, Petronilo Santa Cruz, Geraldo Azoubel, Moacir Veloso, João Olímpio Mendonça, Sílvio Neves Baptista, João de Brito Alves, Rogério Neves Baptista, Mílon Corte Real, Afonso Neves Baptista, Albany de Castro, Alexandre Palmeira, Antônio Elias Salomão, Bento Gouveia, Fernando Barros, Fernando Coelho, Fernando Cunha, Vitorino Vidal, Mário Neves Baptista Filho, Fernando Elísio Wanderley, Arthur César. Continuemos pelos intimoratos Geraldo Neves, Gilberto Marques Paulo, Gil Teobaldo de Azevedo, Jaime Menezes, Paulo Azevedo, João Bosco Tenório, Herodoto Pinheiro Ramos, Carlos Alberto Portela, Carlos Alberto Possídio Lustosa, Antônio Bartolomeu de Faria Machado, Eliomar de Carvalho Teixeira, Ubirajara Carneiro da Cunha. Pensam que acabou? Pois vejam quantos insignes ainda cabem: José Antônio Alves de Melo, Marcos Meira, Murilo Guerra, Paulo Marcelo Raposo, Adolpho Moury Fernandes, Petronilo Santa Cruz, Sérgio Higino Dias dos Santos, Palhares Moreira Reis, Carlos Araújo, Sílvio Galvão, Ubirajara Emanuel Tavares de Melo, Euclides Martins, Vital Rangel, Jonas Ferreira Lima, José de Castro Montenegro, Pedro Tasso de Souza, Fernando Resende, Walter Lubarino, Romero Esteves, Hélio Burgos, Rômulo Pedrosa, Ulisses Coutelo de Albuquerque, José Luiz Libonati, Lindemberg da Mota Silveira, José Hugo dos Santos, João Cruz, Valdemir Miranda...

Nem poderia faltar a essa turma uma diva, ou várias, mas devo me abster, já que elas estão sob o pálio da avisada sentença de Oscar Wilde: “O mais perigoso dos indivíduos é a mulher incapaz de mentir sobre a própria idade”. E sendo para aumentar, pior, seria mesmo caso de camisa de força. Afora não haver ninguém suficientemente insano para lhes rogar o sacrifício, ainda que por boa e justa causa.    

Vamos marcar a data? Se algum dos citados, contudo, não responder à chamada, compreenderemos. É somente uma questão de tempo.

P.S. - Sem discursos, por caridade.
 

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