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22/02/2011Chegança do Carnaval - Nilzardo Carneiro Leão
22/02/2011Publicado na Folha de Pernambuco - 22.02.2011
Nos jornais, a propaganda já vem entremeada de confetes e serpentinas coloridas, as televisões fazem suas chamadas com figuras carnavalescas, ritmos e requebros do Carnaval, as ruas começam a ser decoradas para o período de Momo (que já não são três dias), há ensaios, às sextas-feiras, lá está o Bloco da Saudade marcando presença com seus arranjos de orquestra e o preparo para o seu baile, fantasias sendo confeccionadas para o desfile por Olinda e Recife, realizado por seus integrantes e aguardado pelo povo, que todo ano espera a saída do Bloco na Praça Maciel Pinheiro e com ele segue, os “perseguidores”, fazendo um cordão protetor, até o Marco Zero.
As lojas, os shoppings, começam a se vestir da alegria própria do tempo momesco, muitas ainda procurando manter a tradição de mostrar fantasias e música autenticamente pernambucana. E os ensaios dos clubes, tribos e maracatus, espoucam por todo o Recife.
Impõe-se destacar, aqui, a Rádio Universitária, da UFPE, com programas como os criados por Hugo Martins, sempre dizendo que “frevo também é música popular brasileira”, tornando-se quase um herói solitário na defesa de nossos ritmos.
E nem se venha com essa história de “Carnaval Multicultural”, que Recife deve cantar e dançar no Carnaval todos os ritmos, com isso eliminando progressivamente o que é nosso, o frevo, nossas manifestações mais autênticas, importando cantores e cantoras, alguns deles superados no tempo e na idade, deixando quase que numa marginalidade (isto é, à margem), os autênticos representantes de nossa música, cantores e compositores, nossas manifestações do genuíno Carnaval de Pernambuco.
Com esse termo “multicultural” muita coisa já foi retirado do nosso folclore e de nossas raízes culturais. Nunca é tarde lembrar que sob a ideia de se criar uma “usina multicultural”, procurou-se até destruir o histórico “Sítio do Arraial - Sítio Trindade”, para se construir “oficinas”, edifícios, destruir não apenas um pedaço da nossa história, como uma preciosa área verde do Recife, salvo pela ação do IAHGP, do Conselho Estadual de Cultura, Exército, parlamentares, entidades diversas e a ação corajosa do atual prefeito da Cidade.
Neste 2011, já há presidente de bloco a dizer que no seu desfile não haverá frevo, somente trios elétricos, axés e outras coisas horrorosas, com letras de baixíssimo nível. E presidente de tradicional clube social, afirmando que vai negar valor às nossas músicas. Tomara que o “Galo da Madrugada” mantenha sua tradição, honrando o frevo e a memória de seu fundador, Enéas Freire, que criou o clube de máscaras para resgatar o autêntico Carnaval de Pernambuco.
Leonardo Dantas, pesquisador e historiador do Carnaval do Recife, em carta publicada em matutino desta Cidade, acusa o recebimento de um frevo intitulado Coração Recifense, da autoria de Fred Monteiro, cantado por esse incomparável representante da música carnavalescas de Pernambuco, Claudionor Germano com acompanhamento da orquestra de nossos ritmos, a do Maestro Spock. Transcrevo o que disse ele, porque me irmano no seu desabafo de folião pernambucano, defensor do frevo:
“Mas de que adianta um frevo de tamanha qualidade, se o Carnaval do Recife está entregue aos “sucessos carnavalescos” gravados pelas musas Maria Gadú, Marina Lima, Fernanda Takai, Zélia Duncam, Céu, Karina Buhr, Roberta Sá e Mariana Aydae. De que adianta, se do verdadeiro Recife, aquele que vive dentro de nós, os megatrefes da prefeitura ameaçam em sepultar? Por conta desses mesmos megatrefes somos obrigados a aturar sons, vozes, sotaques, dessas melodias alienígenas. Espero que neste Carnaval de 2011 reste para nós”um bombo, uma mulata e um trombone de vara, para o frevo sobreviver”. Que nele reine a alegria de todos nós, tão carentes de felicidade do Reino Azul da Fantasia que sempre estão a nos roubar a cada Carnaval que passa.”