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10/05/2010Brasilino, o brasileiro - João Bosco Tenório Galvão
10/05/2010Publicado no Diario de Pernambuco - 10.05.2010
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na década de 1960 a juventude brasileira foi sacudida em seu nacionalismo com o trabalho de Paulo Guilherme Martins, intitulado "Um dia na vida de Brasilino". Brasilino era um brasileiro normal que dormia pagando dividendos ao capital estrangeiro, que explorava o fornecimento de energia elétrica de seu ventilador. Os royalties eram devidos quando Brasilino acordava e escovava os dentes com pasta colgate americana, no uso do desodorante, no leite que tomava, pois a vaca era alimentada com ração de estrangeiros e, quando fumava, boa parte de seu câncer igualmente pagava lucros aos Souza e Cruz britânicos. O livro era um libelo ao capital estrangeiro, de modo especial ao americano. Hoje a vida de Brasilino mudou! O Brasil agora negocia com o mundo inteiro, tem fábricas espalhadas pelo planeta e explora recursos naturais nos quadrantes do mundo. Tem hora que somos comparados às grandes potências e alguns momentos com os pobres africanos. Mas, imaginemos comoé a vida de hoje do Brasilino, brasileiro de classe média, como era o personagem de Paulo Guilherme. O dia de Brasilino é pleno de preocupações e medos. Em qualquer dia quando se desloca ao trabalho em carro particular ou transporte coletivo, vai com a sensação de temor, pois tem vários amigos e parentes que já foram assaltados. O medo é um sentimento cotidiano. No trabalho se preocupa se a empresa paga plano de saúde, pois o simples imaginar de ser atendido pelo sistema público de saúde o atemoriza. Sofre com as intermináveis filas e pelas consultas urgentes marcada para meses adiante da doença. Se for aos bancos pagar seus carnês, pois tem medo de fazê-lo pela internet, sabe que até na fila dos idosos a demora é inevitável. O nascimento de sua prole na rede pública é como ganhar na loteria, pois, faltam médicos e leitos e bote olho vivo nos bebês. Se os filhos conseguem estudar na rede pública tem que se endividar para eles frequentarem os cursinhos visando habilitação para universidade pública. Mesmo com cotas é preciso assegurar a universidade gratuita. Ainda, o medo de adoecer é simultâneo com o medo da perda do emprego, pois vive como bicicleta, se parar cai... Se for aos jogos de futebol com ou sem os filhos o medo das galeras igualmente o assombra. Por falar em galeras, elas também frequentam com seus arrastões as praias do Brasil. A vida de Brasilino o personagem hoje cinquentão é dura. Para onde o brasileiro se vira, paga impostos equivalentes a quatro meses do seu trabalho anual. Não tem segurança no lazer nem no cotidiano. Se um filho sai à noite não dorme até o seu retorno. Ter carro é odisseia, juros altos, impostos astronômicos e 10% do preço como seguro. Futebol, só pela TV. Perambular pelas praças e ruas como antigamente nem pensar, pois estão roubando tênis e sandálias japonesas e as polícias evitam os confrontos com os ladrões e agressores da comunidade. Diante de tudo cabem indagações. É impossível evitar as galeras que agridem e roubam nos mesmos locais após os eventos esportivos? As filas nos ambulatórios e hospitais públicos podem ser evitadas? A qualidade do ensino público pode melhorar e ser modelo? A polícia poderia circular com real efeito preventivo como acontece em países da nossa América Latina? Pois é, o Brasilino que faz negócios no mundo não tem segurança, saúde e educação em seu país continente. Um dia na vida de Brasilino é um dia de cão!