Notícias
12/04/2010Alice, o livro e o filme - Antônio Campos
12/04/2010Publicado na Folha de Pernambuco - 12.04.2010
A literatura sempre foi fonte inspiradora para o cinema. Mais recentemente não só para a sétima arte. Além de inspirar filmes, os livros passaram a contribuir com idéias que podem se estender também na criação de jogos eletrônicos. Com o desenvolvimento da tecnologia e o surgimento dos e-books e áudio-books o mercado editorial atravessa um período de turbulência com o avanço no terreno do mundo virtual. O caminho rumo ao digital é mesmo sem volta para a produção literária. Junto a isso se vê, cada vez mais frequente, obras literárias que suscitam imagens fantásticas na cabeça do leitor (muitas delas até surreais), servirem de roteiros para filmes de linguagem e exibição que exploram bastante a tecnologia. Alguns destes lançados também em terceira dimensão (3D), que passa um forte sentimento de realidade às imagens.
No 1º Congresso Internacional do Livro Digital, realizado recentemente em São Paulo, o presidente da Feira do Livro de Frankfurt, Juergen Boos, afirmou que o livro não é apenas um objeto, mas uma experiência. “A edição do livro não é mais um setor isolado, agora estamos dentro do negócio do conteúdo. O livro se torna uma idéia que pode servir para a criação de filmes e até jogos”, apontou Boos.
O desafio para roteiristas e diretores, no entanto, é justamente a adaptação de obras literárias, que em sua maioria são densas e/ou complexas e grandes, para a linguagem ágil e dinâmica do cinema. Há sempre certo impasse, caminhos distintos entre a obra literária concebida pelo autor (o criador de palavras) e a percepção que o diretor de cinema (o criador de imagens) tem da mesma. Mas isso é perfeitamente normal. Uma boa tradução não se faz literal. Quando um grande criador de universos se aproxima do outro não há obediência completa de nenhum dos lados.
Um significativo exemplo do êxito na aproximação de um gênio do mundo da imagem à obra de um brilhante escritor é o filme Alice no País das Maravilhas, que estréia no Brasil este mês. Dirigido por Tim Burton, o longa é certamente a melhor adaptação para o cinema da obra do inglês Lewis Carroll (1832-1898). Diretor dos filmes Edward, mãos de tesoura e A Noiva-Cadáver, Burton é o que se pode chamar de um mago do universo jovem, por isso a união feliz com Carroll, que era um exímio conhecedor do mundo infantil. Entretanto há diferenças entre o livro e o filme. Nada mais que adequações do universo de Carroll para o de Burton, seguindo ainda as especificidades da linguagem e aspectos da literatura e do cinema.
Ao invés de uma menina de sete anos, o filme Alice no País das Maravilhas traz a bela atriz australiana Mia Wasikowska, com trajes bastante sensuais, no papel principal. Outras diferenças significativas entre livro e filme ficam por conta de personagens como a Rainha Vermelha e o Chapeleiro Maluco.
Mas o que vale a pena ressaltar é a junção de nomes que embora sejam de épocas tão distintas, obtiveram algo bastante raro no meio artístico: sucesso de crítica e público. Professor de matemática da Universidade Oxford, Carroll chegou ao estrelato com dois livros: Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá. Até hoje bastante estudados nas universidades, lidos por pessoas de todas as idades e objetos de várias traduções. No mundo do cinema, Tim Burton também alcançou o sucesso, com estouros de bilheteria a exemplo de Batman e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça . Além disso, está tendo o privilégio de ter uma exposição, neste momento, com mais de 700 peças de sua vida e obra (desenhos, cartazes, fotografias e animações) no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).
O filme Alice é um belo diálogo entre as artes literária e cinematográfica com uma releitura contemporânea da linguagem do cinema. Burton fez um livro em cinema, através da tecnologia 3D, utilizando a linguagem literária e também cinematográfica de Carroll, mostrando a tendência da diminuição do limite entre as linguagens da literatura, do cinema e mesmo da vida real.
O desafio para roteiristas e diretores, no entanto, é justamente a adaptação de obras literárias, que em sua maioria são densas e/ou complexas e grandes, para a linguagem ágil e dinâmica do cinema. Há sempre certo impasse, caminhos distintos entre a obra literária concebida pelo autor (o criador de palavras) e a percepção que o diretor de cinema (o criador de imagens) tem da mesma. Mas isso é perfeitamente normal. Uma boa tradução não se faz literal. Quando um grande criador de universos se aproxima do outro não há obediência completa de nenhum dos lados.
Um significativo exemplo do êxito na aproximação de um gênio do mundo da imagem à obra de um brilhante escritor é o filme Alice no País das Maravilhas, que estréia no Brasil este mês. Dirigido por Tim Burton, o longa é certamente a melhor adaptação para o cinema da obra do inglês Lewis Carroll (1832-1898). Diretor dos filmes Edward, mãos de tesoura e A Noiva-Cadáver, Burton é o que se pode chamar de um mago do universo jovem, por isso a união feliz com Carroll, que era um exímio conhecedor do mundo infantil. Entretanto há diferenças entre o livro e o filme. Nada mais que adequações do universo de Carroll para o de Burton, seguindo ainda as especificidades da linguagem e aspectos da literatura e do cinema.
Ao invés de uma menina de sete anos, o filme Alice no País das Maravilhas traz a bela atriz australiana Mia Wasikowska, com trajes bastante sensuais, no papel principal. Outras diferenças significativas entre livro e filme ficam por conta de personagens como a Rainha Vermelha e o Chapeleiro Maluco.
Mas o que vale a pena ressaltar é a junção de nomes que embora sejam de épocas tão distintas, obtiveram algo bastante raro no meio artístico: sucesso de crítica e público. Professor de matemática da Universidade Oxford, Carroll chegou ao estrelato com dois livros: Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá. Até hoje bastante estudados nas universidades, lidos por pessoas de todas as idades e objetos de várias traduções. No mundo do cinema, Tim Burton também alcançou o sucesso, com estouros de bilheteria a exemplo de Batman e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça . Além disso, está tendo o privilégio de ter uma exposição, neste momento, com mais de 700 peças de sua vida e obra (desenhos, cartazes, fotografias e animações) no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).
O filme Alice é um belo diálogo entre as artes literária e cinematográfica com uma releitura contemporânea da linguagem do cinema. Burton fez um livro em cinema, através da tecnologia 3D, utilizando a linguagem literária e também cinematográfica de Carroll, mostrando a tendência da diminuição do limite entre as linguagens da literatura, do cinema e mesmo da vida real.