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02/03/2011A mordomia e o caixa - Gilberto Marques
02/03/2011Publicado no Diario de Pernambuco - 02.03.2011
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Há muito ouço falar das prerrogativas que o cargo público de relevância concede. No início da Abertura Democrática, notícias vazavam dos intestinos do Planalto. Vinho, filé, lagosta saíam aos montes no exagero das fofocas. A quantidade apontada surpreenderia qualquer restaurante de grande porte.
O que ninguém sabe é se a comilança era na cozinha ou se saltava o muro dos palácios.
Mário Correia Lima, uma espécie de guru na minha juventude, apesar de ser ex-preso político, egresso do partidão, não se amesquinhou: ´O Poder tem sua liturgia. A rainha, a presidente, o ministro precisam exercitar a pompa inerente ao cargo` - disse o professor de História.
O estado guarda sua majestade nos alforjes da outorga popular que o concebe. A autoridade estatal vem pronta e acabada. Nasce do gene do cidadão. A organização sócio-política se alimenta do poder de polícia, que é inerente a autoridade. É comum, porém, não se associar o estado ao povo. O governo é sazonal,em todos os aspectos, inclusive na sua forma de apresentação. O estado, no entanto, ficou perene ao longo da história e cristalizou-se com o crescimento demográfico. A multiplicação humana avolumou os problemas e criou novos - poluição e trânsito são bons exemplos. O mundo cresce vertiginosamente. O estado é, pois, inalienável.
Recentemente, o que pareceria humildade no primeiro gesto, fez-se arrogância no segundo ato e a merda virou boné no andar de cima. No Superior Tribunal de Justiça, o palco e um imbróglio que poderia ser evitado com a pompa do mordomo. O ministro presidente do Tribunal, em vez de mandar, foi. Desceu a rampa, andou nos corredores, furou a fila, botou o dedo no botão. Caixa Eletrônico é lugar de estagiário e não de ministro. Se ainda fosse na rua... Na rua tem o risco dinamite.
Segundo o noticiário, o ministro Ari Pargendler bateu boca, arrancou o crachá e demitiu um estagiário de 24 anos. Marco Paulo dos Santos, que é negro e também estava na fila do caixa, correu para a delegacia. O caso foi parar no Supremo, que é competente para julgar ministros. No processo administrativo, a censura pública é pena agravada. Essa, portanto, já foi executada. O affair e a execração ganharam o mundo. A mordomia é peça importante no conjunto litúrgico. É profilática. Será que em Pernambuco a polícia faria os dois se beijarem? ´Perdão foi feito pra gente pedir...` Brasília não tem mar. Beira mar só o Fernandinho.